Os pais são responsáveis pelo que os filhos se tornam quando adultos?

Ontem, enquanto lia a coluna da jornalista Eliane Brum no site da Revista Época entitulada Meu filho, você não merece nada lembrei de uma questão proposta pelo meu antigo professor de Ética da Uerj, João Pedro. Normalmente, ele nos dava uma pergunta e nos convidada a refletir sobre ela escrevendo um determinado número de linhas. 

Mas, a recordação se fez devido a questão tão comum nos dias de hoje, mas que eu nunca havia parado para pensar sobre. Afinal, uma família que não acompanha a formação ou educação de seus filhos é responsável pelo que eles irão se tornar quando adultos? Convido a todos para refletirem comigo...

Sinceramente, considero esta uma questão complicada de ser respondida, pois se por um lado é papel dos pais acompanharem a educação de seus filhos, por outro estes mesmos filhos nem sempre seguem os conselhos dados por pais e mães. Além disso, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente o dever de educar as crianças não se restringe apenas ao âmbito familiar:

“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”

Como pode ser lido acima, educar uma criança é dever de toda a sociedade, mesmo que de forma direta ou indireta. Por exemplo: os professores na escola, os amigos, os avós, os tios, o motorista de ônibus e de modo mais enfático os pais devem ensinar valores aos jovens. O que torna-se mais difícil em um mundo no qual a mulher é obrigada a trabalhar fora para garantir o conforto dos seus. Isso em vez de cuidar exclusivamente da prole como ocorria em décadas anteriores.

Concordo, no entanto, que há famílias que simplesmente abandonam a educação das crianças nas mãos da escola, mas isso é exceção. A maioria se preocupa e muito com a formação dos filhos, o que nem sempre garante uma vida digna para eles. Ou seja, culpar os pais por seu filho ou filha ter se tornado um malfeitor é covardia, pois nenhuma mãe cria seu filho para que ele se torne um bandido.

Um exemplo recente foi exibido no filme “Bruna Surfistinha”, baseado na história real de Raquel Pacheco que abandona sua casa para viver como garota de programa. Não podemos condenar sua família pela decisão de Raquel, já que após oito anos do ocorrido ela mesmo admite que não era essa a vida que sua mãe havia sonhada para ela.

Nesse sentido, afirmar que uma família que não acompanha a formação ou educação de seus filhos é responsável pelo que eles irão se tornar quando adultos é injusto, desleal. O máximo que podemos assegurar é que de fato é dever da família zelar pela educação dos filhos. O que recai sobre outro tópico: que tipo de educação estas crianças estão adquirindo em escolas públicas desestruturadas, onde falta segurança, professores e infra estrutura? Com toda certeza, isto sim é um fator preponderante para determinar que tipo de adulto a criança virá a ser.

Carlos Drummond de Andrade já dizia que “Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem”. O que demonstra que o problema escolar brasileiro não é recente e, infelizmente, não tem prazo para terminar.

Acreditamos que a chave para garantir bons cidadãos é fruto do conjunto: pais e escola presentes no dia a dia do jovem, ensinando direitos e deveres, garantindo alicerces para uma infância/adolescência tranquila e uma educação que lhe garanta oportunidades de no futuro construir uma vida melhor. A discussão deste tema pode também ser visto pelo ponto de vista do exemplo, na medida em que normalmente as crianças seguem os exemplos de seus pais, tanto de comportamento, quanto de profissão (o filho do médico se inspira no pai e torna-se doutor também).

Lembrando sempre que isto também não é uma regra fixa e que pais alcoólatras não são garantia de filhos igualmente alcoólatras. Ou seja, acompanhar é importante, mas não é garantia de um adulto responsável e seguidor das normais sociais. E pais ausentes não significam filhos irresponsáveis, pois estas coisas nem sempre resultam em causa/efeito. De tudo isso a única certeza que temos é que uma geração educada de norma inapropriada, quando se tornam pais encontram dificuldades de orientar seus filhos, pois é complicado ensinar coisas (sexualidade, por exemplo) que você nunca aprendeu, ou aprendeu na marra.

2 comentários:

rthome disse...

Realmente é muito complicado associar a educação dos filhos com a dos pais... Uma família estruturada ajuda bastante o desenvolvimento de uma criança, mas não é garantia de sucesso... Vemos todos os dias jovens de famílias estruturadas se drogarem, dirigirem embriagados...

dimas disse...

É obrigatório o papel dos pais na educação dos filhos , a questão de ser complicado não depende de estrutura, e sim de querer educar, porque numa sociedade capitalista a muitas facilidades distorcendo e confundindo a educação . Essa sociedade tem estrutura mais não sabem aplicar na educação, ao contrario de famílias humildes do interior,que sem estrutura tem como meta educar seus filhos da melhor maneira possível, e o ex:estar ai grandes lideres ,empresários...etc, que surgiram do interior , temos que repensarmos a educação neste país.